29 de Abril, 2014: Oficina - BALLET CLÁSSICO PARA ADULTOS

Casa da Cultura dos Olivais
Rua Conselheiro Mariano de Carvalho 68, Lisboa
Mapa

Transportes
Metro: Cabo Ruivo, Oriente
Autocarros: 705, 708, 725, 728, 731, 744, 750, 759, 779, 781, 782, 794
Comboio: Gare do Oriente 

29 de Abril, 2014: Debate - PARENTALIDADES: ADOPÇÃO E HOMOPARENTALIDADE

"O CIEG gostaria muito de convidar-vos para a sessão "Parentalidades: Adoção e Homoparentalidade" do Ciclo  “Género em debate” com a participação de Pedro Vasconcelos e Pedro Costa.

Decorre no dia 29 de abril (3ª feira), pelas 18.00 horas, na Sala 6 do Piso -1 do ISCSP-UL 
Esperamos poder contar com a vossa presença.

CIEG - Centro Interdisciplinar de Estudos de Género
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
Rua Almerindo Lessa - 1300-663 Lisboa


Transportes
Autocarros: 723, 729, 742, 760

ENCONTRO EQUIPA FACEBOOK 1974


MMCAFÉ
DEBATE E PENSAMENTO
às 17H00

"Durante um mês, acompanhámos a história de Pedro Xavier, um herói anónimo do 25 de abril de 1974. Hoje é tempo de conhecer e conversar com a equipa que criou o projeto Facebook 1974.

Entrada livre"

Teatro Maria Matos,
Av. Frei Miguel Contreiras 52, Lisboa

Transportes
Metro: Roma
Comboio: Areeiro
Autocarros: 705, 708, 717, 722, 727, 
735, 744, 755, 756, 767

24 de Abril, 2014: Concerto - RECITAL DE FINALISTAS DA EMNSC

Palácio Foz
Praça dos Restauradores, Lisboa

"Recital de Finalistas da EMNSC
Entrada Livre
24 de abril às 20:30
Sala dos Espelhos

Escola de Música Nossa Senhora do Cabo

No culminar de mais um ano lectivo, serão apresentadas peças de vários compositores e épocas, interpretadas pelos alunos avançados de diversas classes da Escola de Música Nossa Senhora do Cabo. A interpretação de obras de Mozart, Beethoven, Mendelsshon, Brahms, Rodrigo estarão ao cargo de alunos das classes de Flauta, Guitarra, Piano, Saxofone, Violino e Violoncelo".

Transportes:
Metro: Restauradores
Comboio: Rossio
Barcos: Terreiro do Paço, Cais-do-Sodré
Autocarros: 91, 709, 711, 736, 746, 783
Eléctricos: 12, 15

25 de Abril, 2014: Teatro - TRÊS DEDOS ABAIXO DO JOELHO, de TIAGO RODRIGUES / MUNDO PERFEITO


TEATRO TIAGO RODRIGUES / MUNDO PERFEITOTrês dedos abaixo do joelho

25 abril ● sessão comemorativa 40 anos 25 abril ● entrada livre (sujeita à lotação da sala) mediante levantamento de bilhete no próprio dia a partir das 15h
às 21h30  M/12

"Consultando o arquivo da censura do teatro durante a ditadura salazarista, o Mundo Perfeito encontrou milhares de manuscritos censurados ou proibidos e também os relatórios escritos pelos censores explicando os cortes ou proibições de textos e encenações. Três dedos abaixo do joelho transforma os censores em dramaturgos, usando os seus relatórios para revelar o pensamento por trás dos mecanismos da censura."

Teatro Maria Matos,
Av. Frei Miguel Contreiras 52, Lisboa

Transportes
Metro: Roma
Comboio: Areeiro
Autocarros: 705, 708, 717, 722, 727, 
735, 744, 755, 756, 767

24 de Abril, 2014: FILHOS DE ABRIL

"No ano em que se comemoram os 40 anos do fim da ditadura em Portugal, as Gaiatas em Lisboa, estão a organizar na noite de 24 de Abril o evento “Filhos de Abril” que irá acontecer na Casa da Covilhã em Lisboa, na Rua do Benformoso nº150 .

Apesar de já sermos filhas da democracia, não esquecemos o legado que nos foi deixado e, por isso, queremos celebrar, recordar e reavivar os ideais de Abril, despertando e acordando consciências para as conquistas que foram alcançadas.

Da programação deste evento, que tem entrada livre, destacamos o debate sobre censura e falta de liberdade de expressão, para o qual servirá de mote a apresentação do documentário Lápis Azul, que contará com a presença do realizador Rafael Antunes, do escritor Artur Portela e do historiador Daniel Nunes; o concerto com o grupo Caravana Folquerore que irá interpretar músicas de intervenção da época, e um mural intitulado “40 ideias para (re) viver Abril” onde vamos ter ilustradores que ao vivo vão mostrar a sua arte e para qual convidamos também os presentes a partilhar as suas ideias e opiniões."

Transportes
Metro: Martim Moniz, Intendente
Autocarros: 708, 712, 726, 730, 740, 760
Eléctrico: 12, 15, 28

24 de Abril, 2014: Concerto - TRIBUTO A ZECA AFONSO


Transportes
Metro: Martim Moniz, Intendente
Autocarros: 708, 712, 726, 730, 740, 760
Eléctrico: 12, 15, 28

23 de Abril, 2014: Dia Mundial do Livro - GUERRA JUNQUEIRO, LONDRES & ROMA


Transportes 
Comboio: Roma
Metro: Areeiro, Alameda
Autocarros: 708, 722, 727, 735, 756

24 de Abril e 22 de Maio, 2014: CONVERSAS À VOLTA... AS MULHERES E O CINEMA


Local: FCSH/UL, Av. de Berna, 26 C, Lisboa

Transportes
Metro: São Sebastião, Praça de Espanha
Autocarros: 716/718/726/742/746/756

23 de Abril, 2014: Inauguração - ANA TECEDEIRO e JOANA ASTOLFI

às 19:30
Rua Rodrigo da Fonseca, 103B
1099-074 Lisboa

Duas Artistas
Algumas Obras
Um Armário
Três Cadeiras
45.000 Agrafos
e
Um Periquito


Transportes
Comboio: Rossio
Metro: Marquês de Pombal
Autocarros: 91, 702, 706, 709, 711, 712, 713, 720, 723, 726, 727, 736, 738, 744, 746, 748, 753, 783

20 de Abril, 2014: Documentário - 48

Entrada livre

Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Estrada de Telheiras, 146 (à saída do metro de Telheiras).

Pontos de Referência: Estando na saída do Metro, do lado “Colégio Alemão”, seguir em frente pela Estrada de Telheiras até ao final. A biblioteca encontra-se do lado direito.

Transportes
Metro: Telheiras
Autocarros: 747, 767, 778

O meu país não é deste Presidente, nem deste Governo

"in Jornal Público

Alexandra Lucas Coelho recebeu nesta segunda-feira o prémio APE pelo romance E a Noite Roda. Este é o texto do discurso que fez, no qual critica o actual poder político.

Quero agradecer em primeiro lugar à equipa da Tinta da China, minha casa, Bárbara Bulhosa, Inês Hugon, Vera Tavares, Madalena Alfaia, Rute Dias, Pedro Serpa.
Agradeço em seguida ao júri que atribuiu este prémio: Manuel Gusmão, Luís Mourão, Clara Rocha, Ana Marques Gastão e Isabel Cristina Rodrigues, a quem coube hoje ser porta-voz, com uma apresentação cuidada e surpreendente de E a Noite Roda. Não conheço pessoalmente a maioria dos jurados. Ter-me-ei cruzado um par de vezes com Ana Marques Gastão e entrevistei há uns 13 anos Manuel Gusmão. Sendo uma honra a decisão deste júri, a presença nele de um poeta que tanto admiro, e trago comigo, é uma alegria. Isto, para usar a palavra que mais associo a Manuel Gusmão, num daqueles versos que se tornam língua geral, lugar-comum a todos, contra todas as evidências em contrário.
Não chega dizer que foi uma surpresa a atribuição do prémio. Começou por ser uma grande surpresa a nomeação, que aconteceu pouco depois de outra: para o prémio do PEN. E a Noite Roda não tinha sido dos meus livros mais bem recebidos pela crítica, nem mais vendidos. Passara um ano e meio sobre a publicação, já nem se encontrava nas livrarias. Eu estava ocupada com a saída de um novo livro, Vai Brasil, e a organizar-me para retomar a escrita de um novo romance, situado no Rio de Janeiro. Se a nomeação para o PEN já me espantara, a do APE pareceu-me quase inverosímil. Para mais, o naipe de finalistas era não menos que excelente: um dos grandes prosadores da língua portuguesa, Mário de Carvalho; dois autores próximos da minha geração que sigo com respeito, Patrícia Portela e Afonso Cruz; e um poeta, dramaturgo e novelista que é dos meus mais queridos amigos, Jaime Rocha. Fico muito contente por ele estar aqui hoje. Fosse eu a decidir, o prémio seria dele, e da sua novela A Rapariga sem Carne. Foi isso que senti ao saber da nomeação.
Semanas depois, estava eu sentada no carro da minha editora, Bárbara Bulhosa, quando me ligam da APE a anunciar a decisão do júri. Pânico, seguido de alerta: está a brincar comigo, certo?, perguntei ao cavalheiro do outro lado da linha, que se apresentara como José Correia Tavares, presidente do júri sem direito a voto. Ele assegurava que não e dava detalhes, que o júri se reunira três vezes, que a decisão fora por unanimidade, e por aí fora até que eu já não estava a ouvir, porque só pensava que aquilo não podia ser a sério. E nos momentos em que acreditava que era, voltava o pânico: aquilo não me podia estar a acontecer. Como assim o prémio APE para este romance: um primeiro romance e esteromance?
Antes que eu começasse a explicar ao interlocutor que estava enganado, a Bárbara decidiu intervir, dando-me ordens em surdina: que aceitasse, que agradecesse, muito obrigada. E subimos para um consultório, que era ao que íamos, acabando com a paz da recepcionista, porta-dentro, porta-fora, mal começaram os telefonemas.
Recentemente, a Tinta da China fez uma edição de bolso de E a Noite Roda, de que gosto mais do que a primeira, como objecto. Gosto do tamanho, dos cantos redondos, da capa mole. É maneira, como dizem os brasileiros. Mas nem a folheei, custa-me olhar para o texto. Na Tinta da China, a Inês Hugon e a Madalena Alfaia, que com uma paciência oriental asseguram as revisões, sabem como por mim ficava a cortar provas até à décima, porque mal entrego o livro já não o posso ver, tudo me parece mal, as bengalas, os tiques, o excesso.
Sendo a minha primeira experiência de romance, sinto essa distância de hoje em relação ao texto de E a Noite Roda mais do que em relação a qualquer outro livro meu, talvez porque nos outros a linguagem esteja mais estabilizada num território com regras.
O que me interessa no romance não é o género, mas a ausência de género. Não é poesia e pode ser poesia, não é reportagem e pode ser reportagem, não é viagem e pode ser viagem, não é teatro, cinema, música, arquitectura, agricultura, cosmogonia, correspondência, folhetim, banda desenhada, arquivo, e pode ser tudo isso. Um romance é a liberdade em extensão. Um território de experimentação com um fôlego considerável, que ninguém conseguiu ainda circunscrever além disto: prosa, criativa, de extensão longa, escrita para ser lida.
Uso a palavra romance, não uso a palavra ficção. Tenho dito e repetido — porque a um jornalista que escreva romances pergunta-se isso continuamente — que o que distingue o jornalismo e a literatura não é um ser real e a outra ficção, mas sim um ser um campo sujeito a regras estabelecidas e a outra, idealmente, inventar as suas próprias regras.
Por isso, interessa-me pouco o debate sobre o que neste romance ainda é jornalismo ou já é romance, ainda é real ou já é ficção, como se houvesse uma espécie de grau de pureza, que é sempre o princípio de um pensamento autoritário. Ninguém ainda se tornou dono do que é, ou não chega a ser, um romance, e é por isso que continua a ser interessante fazer romances, e que cada um faça o seu. Na verdade, neste campo, quanto à criação, não há outro lema em que me reconheça tanto: que cada um faça a sua coisa. Faça o que tem a fazer, contra tudo, contra todos: crime e castigo, doença e cura, transmigração da alma ou biografia derradeira.
O que me levou a fazer este romance? O que o distinguia dos livros anteriores? A possibilidade de um território sem regras para o qual eu transportasse vários materiais biográficos: amorosos, políticos, sociais, profissionais. O texto agora entregue a si mesmo, inventando as suas regras, é que estabeleceria a transição para o romance. Um não-género fazendo uso de vários géneros, incluindo a reportagem.
Jerusalém era uma coisa minha, Gaza era uma coisa minha, a experiência de cobrir o conflito israelo-palestiniano era uma coisa minha, eu queria transportá-los para o campo literário porque me interessa transportar para o campo literário tudo o que a experiência tenha tornado coisa minha. Dito de outra forma, aquilo que é a identidade em movimento.
Não é diferente do que fará um médico que escreva romances (ou um arquitecto, um historiador de arte, um diplomata, um advogado, um professor, um burocrata), sempre com menos explicações do que as que são cobradas a um jornalista. Nunca começarei a entender porque se estranha que alguém cujo trabalho é escrever decida escrever outras coisas.
E a Noite Roda não é sequer o melhor romance que eu podia ter escrito entre 2010 e 2011, os meus últimos meses em Portugal e o meu primeiro ano no Brasil. Não foi, certamente, o que muita gente achava que eu devia ter feito. É apenas o que eu precisava de fazer naquele momento para sair do ponto em que estava. O importante não será fazer o melhor que sabemos, mas o que precisamos de fazer, mesmo não sabendo, para sair do nosso limite. Aquilo que nos desloca se estamos fixos, que nos fixa se estamos deslocados.
Recentemente, numa entrevista, perguntaram-me quem gostaria eu que escrevesse a minha biografia. É uma daquelas perguntas a que só podemos responder desabridamente. Respondi que esperava que as personagens tratassem do assunto e não sobrasse nada. Penso nisso como uma espécie de teia de Penélope em que o autor se vai construindo nos livros, ao mesmo tempo que desaparece na vida.
Tudo o que faço é biografia, idealmente cada vez mais real, independentemente de as personagens tomarem as minhas circunstâncias, como acontece em E a Noite Roda, ou não tomarem de todo, como acontece no romance que estou a escrever. Ninguém pergunta a um poeta se o que está no poema é real ou ficção. Aquilo é o que é, é dentro da cabeça dele.
O que cada um vive é seu património inalienável, seu único real património, e é seu direito fazer disso o que quiser, na intersecção com os outros e o mundo, tendo como único limite, para mim, não devassar o património de um outro, de forma reconhecível publicamente.
De resto, o criador não deve conhecer limites e quanto mais escuro, mais difícil e mais indevassado melhor. Aquilo que não se pode escrever é o que há a escrever, é o que falta. Não estamos cá para nos repetirmos nem para nos pouparmos. Pouparmo-nos para quê? Não acredito na vida além da vida.
Sempre quis escrever, desde que me lembro. Os livros tinham todas as vidas. Passei a adolescência a ler romances. Lia os portugueses, os franceses, os ingleses, os russos, os alemães, mais tarde os americanos, os japoneses, os levantinos. O mundo não acabava, eu lia e queria sair pelo mundo. O jornalismo era a possibilidade disso, uma bela possibilidade quando eu tinha 17 anos e as rádios piratas explodiam, ainda nem havia TSF, nem PÚBLICO, nem telemóveis, nem computadores pessoais. A minha geração viveu essa promessa de aventura no trabalho, que hoje parece arqueológica.
Só fui ler poesia compulsivamente depois dos 20. E a poesia, como a rádio, mudou, moldou a minha relação com a escrita. Questão de som, de ritmo, mas também de montagem, de elipse. Não que escrever poemas fosse a minha coisa, tentei, não era. Ler poemas, sim, seria parte do que eu tinha para escrever.
Sempre achei que seria uma questão de tempo começar a fazer livros, e acabei por publicar o primeiro aos 39 anos. Como seria uma questão de tempo o romance chegar. Não há abandono de uma coisa por outra, não deixei de ter na cabeça livros de viagem, reportagem ou crónica, entre os vários romances que quero fazer. É o jardim dos caminhos que se bifurcam, para citar um daqueles autores que sempre admirei à distância, porque Borges é de outra galáxia, de um mundo, digamos, não-carnal. Sou mais do lado Moby Dick, até ao trespassar da última carne, a do caçador. Moby Dick agora sem género, ou transgénero. Moby Dick-Orlando, homem e mulher, humano e animal, deus e demónio. Um Moby Dick antropofágico, depois de ter morado no Brasil.
Não me interessa a fuga, interessa-me o confronto, o embate, o arpão no corpo que sempre fugirá. Chamemos-lhe Moby Dick – ou amor – ou real. A vida verdadeira que é estar aqui a desejar além. A pulsão da guerra, qualquer espécie de guerra, é a sobrevida: vida conquistada à morte.
Nenhuma arte é panfleto, se é panfleto, não era arte. Ao mesmo tempo, toda a arte é política, no sentido em que não existe sem um outro, que pode ser apenas um. O determinante não é que sejam muitos, mas que exista uma relação. Que algo actue entre um e outro.
Este livro é político, como todos os que fiz, como tudo o que faço, pelo simples facto de me pôr em relação com outros. Estar aqui hoje é político, falar em público é político. Onde há um colectivo há política.
O meu feitio seria mais não estar, mas encaro isto como parte de um trabalho que aceitei fazer desde que comecei a publicar, por acreditar que podia, devia, contribuir para os livros chegarem a mais alguém, respeitando eu tanto quem se recusa a fazer isso como quem o faz, por razões que são de cada um e de mais ninguém.
A minha opção é política, digamos. Uma forma de participação, de agir além da militância partidária. A militância não é a minha coisa, ainda bem que é a coisa de pessoas que admiro, entre as quais conto amigos. A minha coisa é escrever, falar dos livros, conseguir fazer disso uma acção.
Estou a voltar de três anos e meio a morar no Brasil. Um dia, a meio dessa estadia brasileira, pediram-me que gravasse um excerto de um conto de Clarice Lispector para o site do Instituto Moreira Salles. Era um conto em que a protagonista era portuguesa, daí o pedido, que a voz coincidisse com o sotaque. Como detestei aquela portuguesa do conto da Clarice. Tudo na boca dela era inho e ito. Era o Portugal dos Pequenitos com a nostalgia das grandezas. Aquele que diz “cá vamos andando com a cabeça entre as orelhas”, mas sofre de ressentimento. O Portugal que durante 40 anos Salazar achou que era seu, pobre mas honesto-limpo-obediente, como agora o Governo no poder quer Portugal, porque acha que Portugal é seu.
Estou a voltar a Portugal 40 anos depois do 25 de Abril, do fim da guerra infame, do ridículo império. Já é mau um governo achar que o país é seu, quanto mais que os países dos outros são seus. Todos os impérios são ridículos na medida em que a ilusão de dominar outro é sempre ridícula, antes de se tornar progressivamente criminosa.
Entre as razões por que quis morar no Brasil houve isso: querer experimentar a herança do colonialismo português depois de ter passado tantos anos a cobrir as heranças do colonialismo dos outros, otomanos, ingleses, franceses, espanhóis ou russos.
E volto para morar no Alentejo, com a alegria de daqui a nada serem os 40 anos da mais bela revolução do meu século XX, e de o Alentejo ter sido uma espécie de terra em transe dessa revolução, impossível como todas.
Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido.
E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este Presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.
Não sou crente, portanto acho que depende de nós mais do que irmos indo, sempre acima das nossas possibilidades para o tecto ficar mais alto em vez de mais baixo. Para claustrofobia já nos basta estarmos vivos, sermos seres para a morte, que somos, que somos.
Partimos então do zero, sabendo que chegaremos a zero, e pelo meio tudo é ganho, porque só a perda é certa.
O meu país não é do orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se quer. Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o Governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se fosse senhor da casa.
Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do Governo do seu partido. É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o Governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este Governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”.
Este país é dos bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselhos podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar.
Eu estava no Brasil, para onde ninguém me tinha mandado, quando um membro do seu Governo disse aquela coisa escandalosa, pois que os professores emigrassem. Ir para o mundo por nossa vontade é tão essencial como não ir para o mundo porque não temos alternativa.
Este país é de todos esses, os que partem porque querem, os que partem porque aqui se sentem a morrer, e levam um país melhor com eles, forte, bonito, inventivo. Conheci-os, estão lá no Rio de Janeiro, a fazerem mais pela imagem de Portugal, mais pela relação Portugal-Brasil do que qualquer discurso oco dos políticos que neste momento nos governam. Contra o cliché do português, o português do inho e do ito, o Portugal do apoucamento. Estão lá, revirando a história do avesso, contra todo o mal que ela deixou, desde a colonização, da escravatura.
Este país é do Changuito, que em 2008 fundou uma livraria de poesia em Lisboa, e depois a levou para o Rio de Janeiro sem qualquer ajuda pública, e acartou 7000 livros, uma tonelada, para um 11.º andar, que era o que dava para pagar de aluguer, e depois os acartou de volta para casa, por tudo ter ficado demasiado caro. Este país é dele, que nunca se sentaria na mesma sala que o actual Presidente da República.
E é de quem faz arte apesar do mercado, de quem luta para que haja cinema, de quem não cruzou os braços quando o Governo no poder estava a acabar com o cinema em Portugal. Eu ouvi realizadores e produtores portugueses numa conferência de imprensa no Festival do Rio de Janeiro contarem aos jornalistas presentes como 2012 ia ser o ano sem cinema em Portugal. Eu fui vendo, à distância, autores, escritores, artistas sem dinheiro para pagarem dívidas à Segurança Social, luz, água, renda de casa. E tanta gente esquecida. E, ainda assim, de cada vez que eu chegava, Lisboa parecia-me pujante, as pessoas juntavam-se, inventavam, aos altos e baixos.
Não devo nada ao Governo português no poder. Mas devo muito aos poetas, aos agricultores, ao Rui Horta, que levou o mundo para Montemor-o-Novo, à Bárbara Bulhosa, que fez a editora em que todos nós, seus autores, queremos estar, em cumplicidade e entrega, num mercado cada vez mais hostil, com margens canibais.
Os actuais governantes podem achar que o trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos, embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso.
Portugal talvez não viva 100 anos, talvez o planeta não viva 100 anos, tudo corre para acabar, sabemos. Mas enquanto isso estamos vivos, não somos sobreviventes.
Este romance também é sobre Gaza. Quando me falam no terrorismo palestiniano confundindo tudo, Al-Qaeda e Resistência pela nossa casa, pela terra dos nossos antepassados, pelo direito a estarmos vivos, eu pergunto o que faria se tivesse filhos e vivesse em 40km por seis a dez de largura, e antes de mim os meus antecedentes, e depois mim os meus filhos, sem fim à vista. Partilhei com os meus amigos em Gaza bombardeamentos, faltas de água, de luz, de provisões, os pesadelos das meninas à noite. Depois de eu partir a vida deles continuou. E continua enquanto aqui estamos. Mais um dia roubado à morte."

Fonte e imagem: http://www.publico.pt/cultura/noticia/discurso-alexandra-lucas-coelho-1631449

Mundo sem Palco: Discurso de abertura Alkantara Festival 2014


"Obrigado por estarem presentes e serem tantos, neste evento onde lançamos a 13ª edição do Alkantara Festival – no ano em que a associação celebra o seu 21º aniversário. Vamos celebrar mais do que nunca, aquele que pode muito bem ser o último festival. Porquê?

Alkantara viu, nos últimos anos, o apoio da Direcção-Geral das Artes ser drasticamente reduzido: em 71% em relação a 2010, e em 55% quando comparado com 2012. Não é um caso único, num contexto de uma redução transversal nos apoios às artes. Mas é um caso extremo.
O corte radical não é resultado de uma avaliação negativa, mas sim consequência da própria arquitectura do concurso da DGArtes, que desvaloriza três eixos essenciais do funcionamento do Alkantara: o interdisciplinar, o internacional e o foco urbano.
Em 2004 mudámos o nome de Danças na Cidade para Alkantara, uma mudança que traduziu a evolução de uma associação que começou enquanto plataforma para a dança portuguesa e que gradualmente evoluiu para uma abordagem transdisciplinar. Um processo orgânico, que acompanhou as tendências no terreno, onde artistas atravessam cada vez mais as fronteiras entre as disciplinas. Contra esta tendência, a DGArtes reduziu brutalmente o orçamento dos apoios na área dos cruzamentos disciplinares: 400 mil euros para o país inteiro, face aos anteriores cerca de 2 milhões de euros. Uma intervenção incompreensível e contraditória à realidade artística. Alkantara foi assim obrigado a concorrer numa área que, já antes do início do concurso, tinha os cofres vazios.
Ao longo dos anos Alkantara enraizou-se profundamente no tecido cultural e social de Lisboa. O Alkantara Festival é um festival da cidade. Organizámos encontros e projectos sobre Lisboa (ainda no ano passado montámos um City Lab Lisboa, um seminário intensivo com 15 artistas internacionais em várias comunidades da capital, no âmbito do projecto europeu Global City/Local City). Organizámos formações de dança na Cova da Moura. Temos um papel essencial no evento Artista na Cidade. E neste momento, estamos a trabalhar num City Book Lisboa (com escritores como José Maria Vieira Mendes, Patrícia Portela, Dulce Maria Cardoso, Tim Etchells e Sus Van Elsen, a fotógrafa Maria Fialho e outros), parte de um ciclo de retratos literários de cidades do mundo.
No último concurso da DGArtes este foco urbano foi explicitamente penalizado. Perderam-se pontos por estar a operar em Lisboa. Consequência disso, uma parte considerável das organizações dos cruzamentos disciplinares procurou uma saída através dos nomeados apoios tripartidos (contrato entre a organização, a autarquia e a DGArtes), uma tentativa louvável de dar uma nova vida às instalações municipais espalhadas pelo país. No entanto, incompreensivelmente cada câmara, seja Lisboa ou Tondela (só para dar um exemplo) tinha direito a integrar apenas uma candidatura tripartida, com o mesmo patamar de 400 mil euros.
Temos a grande sorte em Portugal de ter na área das artes performativas algumas organizações absolutamente extraordinárias fora dos centros urbanos. Mas isso não invalida que esta aplicação do sistema dos tripartidos seja essencialmente antidemocrática e prejudique as organizações a operar, bem como o público, em cidades como Lisboa ou Porto, confrontando as suas câmaras municipais com uma impossível Sophie’s Choice.
A visão do Alkantara é explicitamente internacional e reflecte as tendências no terreno, inspiradas por uma maior mobilidade e um crescimento de colaborações entre artistas de países e culturas diferentes. O enquadramento internacional oferece-nos um contexto para enfrentar questões essenciais sobre centro e periferia, sobre global e local, temáticas centrais no programa do festival.
Esta visão internacional ficou claramente ausente no último concurso da DGArtes. Se a palavra ‘internacional’ aparece, é num contexto bastante ‘one-way’: vai procurar financiamento para artistas portugueses no estrangeiro. Soa quase a uma variação mais sofisticada da canção da emigração. Aqui a apresentação de espectáculos estrangeiros, ou a participação activa nas redes internacionais, não têm lugar.

Talvez não estejamos sempre conscientes, mas temos hoje em dia em Portugal, o privilégio de ter uma geração excepcionalmente forte nas áreas de teatro e da dança, isto sem descurar a geração anterior. Basta olhar para o outro lado da fronteira com Espanha para perceber a nossa riqueza. Tenho a convicção que a presença do Alkantara, e outras instituições com um olhar internacional, jogou e joga um papel essencial nesta fertilidade artística.
Alkantara construiu, ao longo dos anos, uma reputação internacional de fazer muito com pouco dinheiro. Desenvolvemos estratégias que nos permitiram participar em redes internacionais onde os outros parceiros à volta da mesa sempre tiveram uma capacidade financeira muito superior mas onde, com a nossa energia e o nosso conhecimento do terreno, conseguimos contribuir de forma determinante.
A situação financeira actual também ameaça a nossa credibilidade nestas redes.
Interdisciplinar, urbano e internacional: três eixos essenciais do Alkantara que provaram ser incompatíveis com o último concurso da DGArtes. Podem dizer: foi um concurso, os contornos eram conhecidos, o Alkantara foi avaliado.
Mas um concurso da DGArtes não faz parte das leis da natureza. Traduz uma linha política. Uma política cultural onde um festival internacional, urbano e contemporâneo, transdisciplinar e crítico não tem lugar. Que propaga uma restauração: os artistas voltam aos quadros. Bailarinos dançam, actores fazem teatro, basta. Uma política cultural que é conservadora onde devia arriscar e abrir novos horizontes, e que deita fora o que devia conservar.
É verdade que esta edição se tornou possível in extremis por uma intervenção extraordinária e única da parte da Secretaria de Estado da Cultura que assim permitiu, dentro do orçamento global da associação, transferir alguma verba para o festival.

Reconhecemos que esta Secretaria de Estado corrigiu, de forma pontual, uma lacuna do concurso da DGArtes. Mas a questão aqui é estrutural: financiamento público das artes não devia ser uma questão de intervenções extraordinárias e de gratidão. Devia ser a consequência de uma política clara e transparente, onde um governo democraticamente eleito tem a obrigação de apoiar a arte contemporânea e crítica, mesmo quando a crítica se dirige contra as suas próprias convicções; uma política virada para o futuro, com a coragem de avaliar projectos artísticos com base na qualidade e na capacidade de colocar questões fundamentais sobre estes tempos tão complexos.
No final do ano, o Alkantara conta voltar a candidatar-se a um subsídio estatal. Sem um sinal claro da vontade política de manter um festival internacional contemporâneo de artes performativas em Lisboa, não repetiremos o tour de force desta edição 2014.
Celebremos este Alkantara Festival como se fosse o nosso último.
Thomas Walgrave"


Abril, 2014: Programação - ASSOCIAÇÃO BACALHOEIRO


"Faríamos no próximos mês de Maio 8 anos, mas não vamos comemorar a data. Abril será o último mês que o Bacalhoeiro abre ao público. Para comemorar 8 anos de intenso trabalho vamos escancarar as portas e deixar entrar toda a gente.

Alguém nos disse que se é para acabar que seja em grande, pois sim, seja feita essa vontade, esta última rodada queremos seja grande e sôfrega. Por isso vasculhámos no baú e procurámos os amigos e parceiros de outrora, juntámo-los aos compinchas de agora e montámos a nossa última agenda mensal.
Venham, apareçam e desfrutem. De 3 a 30 de Abril entre 4a e Domingo haverão sempre concertos e todos os dias a entrada será grátis, para sócios e não sócios.
Obrigado também a todos aqueles que se associaram e que ao longo dos anos foram cerca de 30.000, o vosso contributo foi essencial para que este projecto tivesse durado tanto tempo.
Obrigado a todos os que cá tocaram, trabalharam e a todos os que por cá passaram. São tantos que é completamente impossível enumerá-los mas também pouco importa. O que realmente importa é o tempo aqui passado, partilhado e musicado. Foi bom, pelo menos para nós, foi muito bom.


AGENDA

**ABRIL       entrada livre todos os dias :D

SEX  18  **   PÁS DE PROBLÈME  concerto pázada punk balkan 
              JAH WIZE dj set reggae 
SAB  19  **   DANAE E OS NOVOS CREOLOS concerto fusão cabo-verde
              DOBRO SOUNDSYSTEM live act
DOM  20  **   GONÇALO GONÇALVES cantor romântico abandonado
              TIAGO GOMES poesia + Dj Vaipes

             ****          ***

QUA  23  **   TIAGO FRANCISQUINHO TRIO concerto didgeridoo world
              DJ ESPANTALHO world music
QUI  24  **   NOITE ARTE-FACTOS  concerto duplo
              LA FLAG + PISTA  rock
SEX  25  **   ANONIMA NUVOLARI concerto
              LUCKY dj set groove world
SAB  26  **   PROJECTO ATLAS  concerto duplo
              BEFORE AND AFTER SCIENCE(porto) rock psicadélico
              EMMA rock progressivo
DOM  27  **   MARAFONA concerto world music


QUA  30  **   FESTA DE ENCERRAMENTO
              20h JANTAR feito pelo mestre Assírio
              (os lugares são limitados é preciso reservar antes)
              24h IRMÃOS MAKOSSA dj afrobeat"


QUEM SOMOS

O Bacalhoeiro é uma associação cultural sem fins lucrativos criada em 2006.  É um espaço dedicado às artes. 


Ao longo dos anos o Bacalhoeiro albergou os mais variados projectos artísticos, desde teatro, performances, concertos, leitura de poesia, etc.
Somos um espaço em constante mutação, fruto das muitas pessoas que colaboraram connosco e das inúmeras exposições e projectos que acolhemos e que constantemente modificam o espaço físico.



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BACALHOEIRO
Rua dos Bacalhoeiros, 125 - 2º andar, Lisboa 

Transportes
Metro: Terreiro do Paço
Autocarros: 709, 711, 714, 732, 735, 736, 758, 759, 760, 781, 782 
Eléctricos: 12, 15, 25, 28
Barco: Terreiro do Paço, Cais do Sodré
Comboio: Cais do Sodré, Rossio, Santa Apolónia