Inauguração dia 28 de Abril, entre as 15.30 e as 20 h.
Leituras de porta aberta
"Diz-nos a ciência, confirmando o bom senso, que o ar é um elemento
essencial. Ventila, areja, e em suma, permite-nos respirar… Depois, para
além disso, o ar faz mais, na sua circulação e se estiver associado a
uma corrente, ou seja, se o ar estiver a formar uma corrente de ar, este
poderá activar um sistema de renovação. O ar traz a descoberta. O ar em
corrente pode trazer a surpresa, desarrumando faz-nos descobrir algo.
Uma corrente de ar introduzindo a desordem, permite a formação,
consequentemente, de uma nova ordem… Aqui mostro, deixando claro, que
sempre quisemos buscar a harmonia, até ao dia, em que por puro
esquecimento, deixamos a porta aberta. Isto permitiu a entrada súbita de
uma corrente de ar, oportunista que tudo recriou a seu belo prazer…
Enquanto a porta se manteve fechada, tudo estava equidistante e ordenado.
E assim, também a cabeça estava fechada, muito fixa, mesmo a pensar.
Depois, nós reparamos que estava tudo simétrico e a uma distância
constante.
Mas eis que subitamente, a porta abriu-se. O ar entrou,
começou a circular por tudo. O ar fez com que tudo respirasse de pulmão
bem aberto. Tudo se dispersou, pulsando. Algo começou a pairar, a
movimentar-se espontaneamente. Isso era a força motriz da imaginação
solta, liberta. Depois a cabeça nunca mais se fechou, nada foi o mesmo.
Eu fiquei para sempre aberta, disponível. Quando assim se está, tudo
pode entrar, o que também significa que tudo também pode sair em
liberdade.
Pensar ajuda-nos a sermos mais conscientes e organizados. Mas, só a imaginação faz subir, ou seja, só ela faz voar.
Nunca fechemos essa porta. Vivo de tampa aberta e escuto. Para melhor ver. É com a imaginação que melhor observo e absorvo.
Se abrimos a porta, tudo pode entrar. Até as moscas, ou as pessoas, e
também coisas abstractas, como ideias: tudo o que puder atravessar a
porta, entrará.
A mosca tem coisas para dizer, transporta recados,
uma espécie de etiquetas ou rótulos. A mosca pensará? Contudo, a mosca
aqui é quem escuta tudo.
Um ascensor em manutenção, um telefone já
desligado, um ralador ralado, estão aqui também reunidos uma série de
objectos meio adoentados ou em vias de terem problemas. Eles estão
juntos e expostos a uma problematização sobre o seu estado inoperante… E
deu-lhes o vento, a corrente de ar entrou, eles deslocam-se. Será que
ficarão cá todos, para os vermos ?"
Alexandra Mesquita
Abril de 2012
Galeria Arte Periférica
Centro Cultural de Belém, Loja 3- Lisboa
Transportes
Autocarros: 28/714/727/729/732/751
Eléctrico: 15
Comboio: Belém
Barco: Belém