2017: Programação - ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA, VIDEOTECA

Arquivo Municipal de Lisboa
Videoteca (Largo do Calvário, nº 2)

"APRESENTAÇÃO GERAL DO CICLO
Neste terceiro e último ciclo dedicado à Arquitetura veremos a cidade dos programas anteriores a ser deixada para trás: já não veremos uma cidade na melancolia da transformação (como no primeiro ciclo), nem propriamente uma cidade imaginada a partir de um interior (como no segundo), veremos uma cidade a extravasar os seus limites e à deriva.
Avançamos então para uma Lisboa reinventada a partir das suas margens.
A cidade expandiu-se num sentido centrífugo e mergulhou vertiginosamente numa topografia que tende para o limite. Atirados para fora de um centro, encontramos novos lugares, pequenos pedaços fragmentados e repletos de um imaginário construído com enclaves e vazios onde as personagens se movem sem, contudo e paradoxalmente, se deslocarem. Habitam também elas uma fronteira, entre a explosão e a implosão, e tropeçam em barreiras que não se desfazem, e as impedem de avançar.
Na cidade imaginada neste ciclo, os espaços não são mais do que um mero vislumbre, surgem como uma grande máquina que se percorre sem permanecer e que se habita de forma fugaz, uma máquina de transitar. A cidade é agora um emaranhado de linhas descontínuas e desfocadas, mas energéticas, que ora unem ora separam as personagens dos lugares, a rua da casa, a noite do dia e a cidade de si mesma.
Lisboa é aqui um arquipélago imaginado.​

Programa

2. Maio.18h30
Corte de Cabelo, Joaquim Sapinho (1995), 94’

comentado por:
Joaquim Sapinho (cineasta)
Francisco Ferreira (arquitecto)
Nélio Conceição (investigador)

O filme começa e acaba nas Amoreiras dos anos 90. É aqui que o imaginário de uma Lisboa cosmopolita e de uma urbanidade plena ganha o seu centro. No entanto, entre o início e o fim do filme, o espaço é projetado para fora dessa centralidade onde as margens da cidade aparecem como um destino provisório. Em permanentes gestos de rutura e conflito, as personagens circulam impelidas pela incerteza e pela desorientação de quem não pertence a lugar nenhum: "Para que lado é que fica o rio?" "E as Amoreiras, para onde é que é?" É nesta turbulência que se movem e se procuram, confrontando-se consigo próprias apenas quando param e olham os seus reflexos, quando filmam e são filmadas, numa multiplicação do olhar que busca uma identidade difícil de reconhecer.


9. Maio.18h30
Mal, Alberto Seixas Santos (1999), 82’

comentado por:
Pedro Jordão (arquitecto)
Jorge Figueira (arquitecto)

No dia 10 de dezembro de 2016, o jornal Público escreveu (para assinalar a morte de Alberto Seixas Santos):

Numa entrevista que deu (…) a propósito da estreia de MAL — um filme sobre um conjunto de "náufragos" do mundo contemporâneo — o realizador disse ao crítico Luís Miguel Oliveira que precisava de ter uma relação com o meio em que vivia para poder filmar: "Terei talvez uma visão pessimista do mundo contemporâneo visto a partir de Portugal [...]. A diferença entre Mal e os meus outros filmes é que estes tratavam de coisas muito concretas: o 25 de Novembro, o salazarismo, os retornados. E este filme é mais vasto, não toca nenhum tema absolutamente português. Tenho alguma dificuldade em trabalhar com aquilo que não conheço. Conheço todas as personagens do filme, são pessoas que conheço da vida real, que transformo e re-oriento. Não são 'invenções'." Sobre este filme, o crítico Mário Jorge Torres escreveu que Mal "era um tremendo soco no estômago", uma crónica negra dos anos de expansão consumista da democracia portuguesa.


16. Maio.18h30
O Fantasma, João Pedro Rodrigues (2000), 90’

comentado por:
Rui Poças (director de fotografia)
Patrícia Santos Pedrosa (arquitecta)
Ana David (programadora de cinema)

Já na viragem da década de 90, o filme de João Pedro Rodrigues entra de rompante no panorama do cinema português. Numa tensão permanente entre o que se tem e o que se deseja, Lisboa, maioritariamente nocturna, acolhe os prazeres e a crueza das obsessões sexuais de um cantoneiro que vive enclausurado no seu próprio corpo. Num tom quase subterrâneo divagamos e rastejamos ao ritmo de um instinto puro que, acentuado pela presença dos cães, nivela o campo de visão. A cidade do Fantasma intui-se, sem verdadeiramente se mostrar, os olhares procuram o outro lado de uma barreira e os lugares espreitam-se, sorrateiramente transgressores, através de uma segunda pele de que a personagem se cobre para poder existir.


23. Maio. 18h30
Os Mutantes, Teresa Villaverde (1998), 114’

comentado por:
Filipa Reis & João Miller Guerra (cineastas)
Sofia Pinto Basto (arquitecta)
Susana Nascimento Duarte (investigadora, professora na ESAD)

Filme chave da cinematografia portuguesa dos anos 90. Vertigem será talvez uma boa palavra para o descrever, e a feira popular, um dos (não)lugares por onde as personagens passam, uma imagem-síntese: as cores intermitentes das máquinas que se movem sem sair do mesmo lugar, as linhas oblíquas do espaço acompanhadas pelos planos sempre em queda, um movimento ininterrupto e vertiginoso que não se sente porque os grandes-planos estão fechados sobre as caras. As personagens do filme, todas adolescentes, estão trancadas num enclave, apertadas num espaço demasiado pequeno para elas mas cujos limites fazem explodir.


30. Maio. 18h30
Xavier, Manuel Mozos (1991 – 2002), 100’

comentado por:
Manuel Mozos (cineasta)
João Rosas (cineasta, investigador)
Eduardo Brito (curador, fotógrafo, crítico)

Para fechar, um filme cuja produção acompanhou toda a década de 90, período que seguimos neste ciclo - Xavier começou a ser feito por volta de 1991 e só em 2002 é acabado. Esse tempo longo, marcado também pela interrupção, está nos planos e está no filme: se por um lado há uma atenção rigorosa e cuidada aos espaços (como se estivessem a ser preservados), por outro, a circulação e interacção das personagens é disfuncional e curta. Por sua vez essa disfuncionalidade é acompanhada pela desadequação de uma personagem em constante circulação, num movimento através do qual Mozos constrói uma topografia verdadeiramente imaginada de Lisboa: Xavier percorre espaços que, apesar de reais, não são contíguos, e o filme desenha assim um mapa que não existe senão em si próprio."

Transportes
Comboio: Alcântara
Eléctricos: 15 e 18
Autocarros: 714, 720, 724, 728, 729, 732, 738, 742, 751, 756, 760, 773
Barco: Belém

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